segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE

Escritor e lingüista denuncia o preconceito lingüístico e considera absurdo dizer que os brasileiros não sabem português

Flávio Lobo - Revista EDUCAÇÃO, n. 26 -julho de 1999"

O brasileiro sabe o seu português, o português do Brasil, enquanto os portugueses sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais feio ou mais bonito: são apenas diferentes um do outro."Nesse trecho de seu livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz, Marcos Bagno ataca a crença segundo a qual "brasileiro não sabe português e só em Portugal se fala bem português". Esse "mito" seria um dos pilares do que ele chama de "mitologia do preconceito lingüístico" ? um conjunto de crenças equivocadas, responsável pela má qualidade e ineficiência do ensino do português nas escolas e pela dificuldade que muitos brasileiros têm no trato com a língua materna.Para Bagno, o "erro de português" que amedronta, intimida e humilha tanta gente, simplesmente não existe. Haveria, na verdade, diferentes gramáticas para diferentes variedades do português. Cada uma delas perfeitamente válida em seu contexto. Todas merecedoras de respeito.Autor de livros para crianças, jovens e adultos, incluindo ficção e obras sobre língua e literatura, Bagno, que tem 37 anos, também é tradutor. Formado em Letras, com mestrado em Lingüística, hoje faz doutorado em língua portuguesa na USP. Desde a graduação, ele se interessou pela sociolingüística ? disciplina que estuda as relações entre língua e sociedade ? e pela revisão dos conceitos de "norma culta", "norma padrão", do que é certo e errado na língua. Estudos e revisões que, segundo ele, não têm sido acompanhados por muitos dos que se apresentam como especialistas no debate sobre o ensino e a situação da língua portuguesa no Brasil.De acordo com Bagno, existe uma "briga" entre dois grupos no campo das questões lingüísticas e gramaticais. Um é composto por lingüistas, verdadeiros especialistas no assunto. O outro seria o dos "puristas", defensores de uma tradição gramatical dogmática e anticientífica.

Mídia ? O surpreendente, diz ele, é que, ao mesmo tempo em que o MEC estaria ouvindo os lingüistas e acompanhando as pesquisas acadêmicas ? num processo de modernização evidenciado nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais ?, os meios de comunicação estariam desempenhando um papel mais conservador. Quase todos os programas de rádio e TV, colunas de jornais e revistas, manuais de redação, CD-ROMs e até sites na Internet dedicados a questões da língua estariam tentando preservar normas ultrapassadas por meio do que ele denomina "comandos paragramaticais"."As pessoas que falam e escrevem sobre a língua na mídia em geral são jornalistas, advogados ou professores de português que não estão ligados à pesquisa, não participam do debate acadêmico, não estão em dia com as novas tendências da Lingüística ? são os que eu chamo de gramatiqueiros", critica Bagno. Para ele, esses "pseudo-especialistas", ao tentar fazer as pessoas decorarem regras que ninguém mais usa, estariam vendendo "fósseis gramaticais", fazendo da suposta dificuldade da língua portuguesa um produto de boa saída comercial.Outro "mito" tratado no livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz é a idéia, bastante difundida, de que a língua portuguesa é difícil. Bagno afirma que a dificuldade de se lidar com a língua é resultado de um ensino marcado pela obsessão normativa, terminológica, classificatória, excessivamente apegado à nomenclatura. Um ensino que parece ter como objetivo a formação de professores de português e não a de usuários competentes da língua. E que ainda por cima só poderia formar maus professores, já que estaria baseado numa gramática ultrapassada, que não daria conta da realidade atual da língua portuguesa no Brasil.Ele acredita que se, em vez disso, os professores se concentrassem no que é realmente importante e interessante na língua, se ajudassem os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão, não haveria tanta gente ? depois de anos e anos de estudo ? em pânico diante do desafio de escrever uma pequena redação no vestibular.As críticas que faz à gramática tradicional não devem ser confundidas com um "vale tudo" lingüístico, explica Bagno. "No campo da língua, na verdade, tudo vale alguma coisa", assegura o escritor. Mas esse valor dependeria do contexto, de "quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito".Quanto ao ensino nas escolas, diz ele, a norma culta deve mesmo ser o principal objeto de estudo. O problema estaria na definição da norma culta a ser ensinada. A "norma culta idealizada", que só existiria nas gramáticas, deveria ser deixada de lado para dar lugar à norma culta real ? identificável na fala e na escrita atual da população culta do país.As diferenças entre a norma culta das gramáticas tradicionais e a norma culta real, de acordo com Bagno, não são tão grandes. Elas parecem mais freqüentes e profundas, segundo ele, por causa do esforço feito pelos "gramatiqueiros" para preservar seus "dinossauros lingüísticos". "Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso", ironiza.

Interpretação ? Falando das regras que vão contra a evolução natural da língua portuguesa no Brasil, Bagno cita casos como o do verbo assistir: "O professor pode repetir mil vezes que assistir é transitivo indireto, que o aluno sai da aula e diz que vai assistir o filme em vez de assistir ao filme. Muitos jornalistas, por exemplo, que se esforçam para escrever e falar ?certo? dizem que um milhão de pessoas assistiram ao filme, mas logo se traem ao dizer que o filme foi assistido por um milhão de pessoas ? sendo que um verbo transitivo indireto não admitiria essa forma passiva."Outro exemplo seria o famoso se de vendem-se casas. Para Bagno, os brasileiros interpretam esse se não como uma partícula apassivadora, mas como índice de indeterminação do sujeito. Uma interpretação, assegura ele, perfeitamente razoável e legítima. "Eu mesmo, em meus livros, só escrevo vende-se casas, ensina-se matérias e não deixo os revisores ?corrigirem?.

"Desuso ? Ele também não vê como erro, mesmo para quem pretende se expressar na norma culta, formas como vi ele em vez de o vi e a substituição dos pronomes seu e sua por dele e dela sempre que se referem a ele ou ela. "O brasileiro só usa seu e sua, com naturalidade, para dizer que algo pertence a você."Outras formas, há muito em desuso, como o pronome vós, na visão de Bagno deveriam entrar na sala de aula apenas como uma curiosidade da história da língua, mencionadas como algo que os estudantes vão encontrar em textos antigos. "Não deveriam mais ser cobrados como parte do conhecimento ativo, prático, dinâmico da língua."Para que a língua seja ensinada de forma dinâmica, prazerosa e eficaz, precisaria ser entendida pelos professores como algo vivo em constante processo de evolução ? e não de corrupção. Os professores de português precisariam ter uma postura similar à de um professor de biologia ou física, "que sabe perfeitamente que muito do que ele está ensinando hoje pode ser reformulado ou mesmo negado amanhã", defende Bagno.Também é necessário, segundo ele, que o trabalho de identificação e descrição da norma culta brasileira atual, que está sendo feito por meio das pesquisas universitárias, sirva como base para a elaboração de gramáticas dirigidas ao ensino escolar e aos falantes da língua em geral. "É um trabalho que eu mesmo quero começar a fazer quando terminar o doutorado", planeja.Bagno considera indispensável o incentivo ao uso da norma culta, especialmente nas manifestações lingüísticas de maior importância e alcance sociocultural e nas que visem a comunicação entre as diferentes regiões do país. Mas, como escreveu no livro Preconceito lingüístico, "esse incentivo não precisa vir acompanhado do desdém, do menosprezo, da ridicularização das outras inúmeras normas lingüísticas que existem dentro do universo brasileiro da língua portuguesa."

http://paginas.terra.com.br/educacao/marcosbagno/deu_flavio_lobo.htm

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

REDAÇÃO DO CONCURSO NA VOLKSWAGEN

No processo de seleção da Volkswagen do Brasil, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta:
'Você tem experiência'?
A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos.


Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma.

REDAÇÃO VENCEDORA:

Já fiz cosquinha na minha irmã pra ela parar de chorar,

Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto,

Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.

Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo. Já confundi Sentimentos.
Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro,

Já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus.

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas,

Já subi em árvore pra roubar fruta,Já caí da escada de bunda.

Já fiz juras eternas,

Já escrevi no muro da escola,

Já chorei sentado no chão do banheiro,

Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando,
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado,

Já me joguei na piscina sem vontade de voltar,

Já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios,

Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso,

Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.

Já apostei em correr descalço na rua, Já gritei de felicidade,

Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol,
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: 'Qual sua experiência?' . Essa pergunta ecoa no meu cérebro:
experiência...experiência...Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência?

Sonhos!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência?
'Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?'